Concerto – 20º aniversário do Palácio da Justiça de Viseu
Programa
- Seixas – Abertura em Ré Maior
- Rodrigo – Concierto de Aranjuez
- Allegro con spirito
- Adagio and
III. Allegro gentile
harpa Ana Aroso
- F. handel –Rejoice greatly” de Messias
- W.A. Mozart – “Exsultate, jubilate” K. 165
- W.A. Mozart – “Alleluia” from Exsultate, jubilate
soprano Marina Pacheco
Orquestra Clássica do Centro
Ana Aroso, Harpa
Marina Pacheco, soprano
Maestro Sergio Alapont
Carlos Seixas – Abertura em Ré Maior
Carlos Seixas foi o mais importante compositor barroco português. Natural de Coimbra, iniciou nesta cidade a sua carreira, logrando uma progressiva notoriedade, que o levou para Lisboa pelo caminho do sucesso musical, através do qual teve um longo e certamente frutífero contacto com Scarlatti. Não obstante esta convivência com o mestre italiano, Seixas não deixou que a mesma influenciasse a sua obra em termos estilísticos ou técnicos, destacando-se precisamente por ter criado uma espécie de “escola” estilística portuguesa dentro da linguagem barroca, com características individuais, evitando seguir as linhas ou modas europeias tradicionais, e até quase antecipando alguns traços de inovação. A Abertura em Ré Maior, com contrastes tímbricos, nuances de agógica, alternância entre momentos líricos, solenes e dançantes, e a própria estrutura em três partes, em vez de duas como era habitual, como que antevendo a chegada da forma-Sonata do Classicismo, é um exemplo muito completo da visão, colorido e plasticidade criativa na obra de Carlos Seixas, o mais notável compositor português do Séc. XVIII.
Joaquín Rodrigo – Concierto de Aranjuez (versão para Harpa)
De entre os vários compositores espanhóis do Séc. XX pertencentes à chamada escola nacionalista, Joaquín Rodrigo foi um dos que se destacou mais pela capacidade de combinar cores e linguagens modernistas com formas e heranças da música antiga. Tendo estudado com Paul Dukas em Paris, a influência das emergentes correntes modernas francesas é nítida nas suas obras, sendo o Concierto de Aranjuez um óptimo exemplo, sentindo-se uma particular mestria na forma como explora timbres e diferentes coloridos, assim como um equilíbrio especial entre o lirismo e a introspecção nas frases melódicas, em especial no contemplativo segundo andamento, assim como a capacidade de juntar nos jogos rítmicos a música antiga e a música tradicional da região madrilena. Foi um dos compositores que mais contribuiu para o protagonismo da guitarra como solista nas salas de concerto, graças ao sucesso desta obra, a sua mais famosa, a par com a “Fantasia para un Gentilhombre”, eventualmente a sua mais genial. No caso da versão apresentada, trata-se da adaptação feita pelo próprio compositor para Harpa, a qual, não perdendo de todo em beleza e colorido musical, ganha ainda mais em espetacularidade virtuosística, o que levou a que posteriormente lhe fossem encomendadas mais obras para este instrumento.
Georg Friedrich Händel – O Messias
A par com Bach e Telemann, Händel foi um dos mais importantes compositores alemães do período Barroco, com um catálogo de obras muito vasto, incluindo repertório concertante, litúrgico, operático e de câmara. Entre as suas obras mais famosas nos dias que correm, o “Messias” será porventura a que mais facilmente é reconhecida pelo público em geral. Curiosamente, na época, após um sucesso considerável na sua estreia em Dublin, as primeiras récitas em Londres não encontraram a mesma repercussão, uma vez que a obra se apresentava com um tipo de conceito inovador o qual o público não estaria ainda preparado para digerir. Trata-se de uma obra com um tema religioso mas não de carácter litúrgico, não sendo música sacra, nem se enquadrando nos vários formatos dos missais, fossem católicos apostólicos romanos ou protestantes. Os próprios textos da obra são uma recolha e mistura entre passagens do Velho e do Novo Testamento, onde o compositor pretendeu descrever a vida de Jesus Cristo, à luz da sua própria crença e fé cristã, mas igualmente correspondendo aos conceitos messiânicos judaicos, tornando assim o Oratório numa obra mística que, tendo uma mensagem de paz, de luz e de elevação, destinava-se não obstante ao contexto de “espetáculo” ou concerto, abrangendo assim um espectro maior de público. Arias como “But who may abide” ou “Rejoice greatly” são muito representativas desse mesmo conceito da primazia à mensagem ecuménica da luz e elevação do espírito de toda a Humanidade por igual, e para além do virtuosismo vocal denotam também os traços refinados da escrita de cariz mais operático de Händel, que nesta obra se revelam essenciais na missão de nos contar a narrativa do Messias.
Wolfgang Amadeus Mozart – Exsultate, Jubilate & Alleluia
Esta obra é habitualmente apelidada de motete, o que faz sentido se observada sob a perspetiva de uma cantata solística seguindo a estrutura da sinfonia italiana barroca (rápido-lento-rápido). Se considerarmos que Mozart a escreveu com apenas dezasseis anos de idade, no espaço de poucos dias, durante uma curta temporada em Milão, mais impressionante se torna, e mais óbvio e irrefutável de facto será concluir que estamos perante um génio absoluto. Estamos perante uma pequena cantata com excertos de textos recolhidos de passagens do ordinário do missal, em torno da Virgem Maria, “Rainha da Paz”, aos quais o compositor deu vida através de música com uma beleza e expressividade excecionais, antecipando já traços das suas obras litúrgicas da maturidade, com um domínio extraordinário das texturas e dinâmicas orquestrais, e explorando com imenso requinte o virtuosismo da voz, sem excessos melismáticos que levem a perder o foco na beleza melódica e na mensagem.
Notas ao programa por Rodrigo Queirós